O astrônomo francês Camille Flammarion disse: "As estrelas envolvem a Terra. A Terra está no Céu."

Ele se referia ao mesmo céu que, neste ano, está sendo reverenciado por astrônomos do mundo inteiro. Por iniciativa da IAU - União Astronômica Internacional, na 62.ª Assembléia Geral da Organização das Nações Unidas, 2009 foi eleito Ano Internacional da Astronomia. A UNESCO, órgão da ONU responsável pela Educação, Ciência e Cultura foi designada agência líder nas comemorações, cabendo à IAU reger a grande orquestra científica que se espalha pelo mundo, sob o tema "O Universo para você descobrir". As atenções do mundo estarão voltadas para o Brasil, porque a XXVII Assembléia Geral da IAU será realizada na cidade do Rio de Janeiro, de 03 a 14 de agosto de 2009, reunindo, aproximadamente, 3000 cientistas de 150 países. É grande a expectativa em torno do maior evento de Ciências promovido em território brasileiro.

COMEMORAÇÕES DAS CONQUISTAS DO CÉU

O céu, após ter sido descoberto foi, aos poucos, sendo conquistado. De início curiosidade, genialidade e o fascinado olhar por meio de uma luneta. Depois, sonhar, acreditar, inventar, trabalhar, construir, caminhar pelos ares ao sabor do vento, voar pilotando um aparelho motorizado e, finalmente, ultrapassar expectativas e navegar pelo espaço sideral. Afinal, quem foram os artífices dessa jornada vitoriosa?

OS 400 ANOS DA LUNETA ASTRONÔMICA: 2009 ficará gravado na História como Ano do Céu por Excelência. A festa foi preparada para celebrar os 400 anos das primeiras observações telescópicas do céu feitas por Galileu Galilei, Pai da Física Moderna. Em um distante 1609, o grande físico, matemático e astrônomo italiano, natural da cidade de Pisa, construiu a primeira luneta astronômica e, com ela, desvelou segredos do céu, nunca vistos anteriormente, como as luas de Júpiter, por exemplo. Relatou esses achados astronômicos no livro Siderus Nuntius, que quer dizer "Mensageiro das Estrelas". Trata-se da primeira conquista do céu, por meio de um instrumento ótico.
Esse foi o equipamento gerador das grandes descobertas astronômicas, que provocaram expressiva revolução científica.

OS 300 ANOS DO BALÃO A AR QUENTE: Cem anos depois de Galileu, precisamente no dia 8 de agosto de 1709, Bartolomeu Lourenço de Gusmão, inventor luso-brasileiro natural da cidade de Santos, estado de São Paulo, realizou na Sala das Embaixadas do Palácio Real de Lisboa, diante do rei D. João V, da rainha D.ª Maria Ana da Áustria, do Núncio Apostólico, membros da Corte e embaixadores de diversos países, a primeira demonstração pública bem sucedida, de um balão a ar quente. Pode parecer estranho falar que Bartolomeu de Gusmão era luso-brasileiro, se ele nasceu em terras brasileiras. Ocorre que, naquele tempo, o Brasil era colônia de Portugal e quem nascia aqui era considerado "português nascido no Brasil", daí a expressão. Gusmão, o primeiro homem a elevar um objeto do solo movido pelo calor, tornou-se o Primeiro Cientista das Américas.

Foi Bartolomeu Lourenço de Gusmão, Pai da Aerostação, que ao idealizar e confeccionar o primeiro equipamento voador feito pelas mãos do homem, deu o primeiro passo na conquista efetiva do céu. Assim, ele abriu o caminho que levaria a Humanidade a incríveis conquistas aeronáuticas.

OS 100 ANOS DA INDÚSTRIA AERONÁUTICA INTERNACIONAL - Se Bartolomeu de Gusmão inventou o mais leve que o ar, foi outro brasileiro que presenteou o mundo com o aparelho mais pesado que o ar. Trata-se de Alberto Santos-Dumont, que nasceu no Sítio de Cabangu, então distrito de João Gomes, estado de Minas Gerais. O bem sucedido vôo pilotando o avião 14 bis ocorreu em Paris, no ano de 1906, mas o aperfeiçoamento constante dos aparelhos voadores, levou Santos-Dumont a idealizar uma aeronave elegante, segura, eficiente, simples, pequenina e leve, que ficou conhecida com o nome de Demoiselle.

Embora o primeiro desses aparelhos tenha voado pela primeira vez em novembro de 1907, foi em 1909 que Alberto Santos-Dumont, Pai da Aviação, apresentou seu último invento aeronáutico, o Demoiselle n.º 20, que voou por muitos quilômetros, com segurança, em alta velocidade para a época e entrou na História como o primeiro avião popular do mundo. Foi o Demoiselle, verdadeiramente, a máquina eficaz de vôo, que levou o homem ao céu. Desde o primeiro invento Santos-Dumont falou que seu grande desejo era popularizar a aviação. Trabalhou para isso e no dia 15 de setembro de 1909 passou do discurso à ação. O jornal francês Le Matin publicou a seguinte declaração do brasileiro: -"(...) desejoso de propagar a locomoção aérea, eu ponho à disposição do público, as patentes da invenção do meu aeroplano. Toda gente tem direito de construí-lo." Divulgada a planta, de imediato, as empresas aproveitaram-se da generosidade do inventor brasileiro.

Portanto, a construção em série do Demoiselle de Alberto Santos-Dumont, apresentado ao público em 1909, representou o primeiro passo da hoje progressista indústria aeronáutica internacional.

OS 40 ANOS DA CHEGADA DO HOMEM À LUA - Com o passar dos anos, do sucessivo aperfeiçoamento científico e tecnológico, homens e máquinas tornaram-se aliados e modificaram a feição do mundo. Em 1961, Yuri Gagárin, cosmonauta soviético e primeiro homem a efetuar um vôo espacial, exclamou do espaço: -"A terra é azul!". Em 1969, o astronauta norte-americano Neil Amstrong, comandante da missão Apollo 11, ao dar o primeiro passo na superfície lunar, falou: -"Este é um pequeno passo para o homem, mas um grande passo para a Humanidade." O que muitos imaginavam ser impossível, acabara de acontecer: o homem chegara à Lua. Era dia 20 de julho, data em que Alberto Santos-Dumont completaria noventa e seis anos de idade. A chegada da Apollo 11 à Lua, justamente no dia do aniversário natalício de Santos-Dumont foi uma honrosa e feliz coincidência! Assim, em 1969, graças a uma potente máquina aeroespacial, o homem conseguiu conquistar além do céu...

Durante séculos, o espaço que era apenas dos pássaros, os verdadeiros mestres da navegação aérea, passou a ser também dos homens. Atualmente, as máquinas voadoras fazem parte da paisagem mundial e os sofisticados telescópios que navegam pelo espaço sideral tornaram-se os verdadeiros Mensageiros das Estrelas, desvelando os mistérios que há 400 anos fascinaram Galileu Galilei e transformando o céu em um livro aberto, repleto de surpresas e novidades.

Neste ano, o que merece ser festejado é o número "9" - 1609, 1709, 1909, 1969 e 2009. Se o mundo está comemorando o Ano Internacional da Astronomia, há motivos de sobra para que nós, brasileiros, também nos alegremos por essa passarela de alegrias científicas que nos conduzem ao Céu.

E, complementando o que foi dito pelo grande astrônomo Camille Flammarion, em 2009, não é a Terra que está no Céu.

É o Céu que está na Terra...

Texto elaborado por:
Laurete Godoy e Ricardo Magalhães
03 de março de 2009.