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Bartholomeu de Gusmão
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O bom filho à casa torna!!
 
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O primeiro cientista das Américas, o santista Bartolomeu de Gusmão, voltará para a sua cidade natal. O irmão dele, também figura importante na História, o diplomata Alexandre de Gusmão, também voltará. Suas urnas serão encaminhadas à Catedral de Santos, iniciativa esta que foi tomada pelo Comendador Alfaya Rodrigues, em 1912. Quase cem anos depois, porém, o presidente do Instituto Histórico e Geográfico de Santos (IHGS), Paulo Monteiro, juntamente com a colaboração de várias autoridades, conseguiu a autorização, dentro das comemorações do tricentenário do dia em que Bartolomeu de Gusmão mostrou seu invento à Corte Portuguesa.

Paulo faz parte da Comissão dos 300 anos do Balão, coordenada pela pesquisadora Laurete Godoy. Em entrevista ao Artefato, ele conta como se deu a “verdadeira peregrinação” para que a autorização fosse concedida. Ele assumiu a presidência do IHGS decidido a mudar o estigma do Instituto, fazendo com que a entidade se aproximasse da população. Assim, muitas ações estão sendo executadas para que, inclusive, o Instituto se torne uma associação e que possa, desta maneira, submeter projetos culturais ao Ministério da Cultura (MinC) e a outras leis de incentivo estaduais e municipais.

Artefato Cultural: Já existe uma programação oficial para o próximo dia 8 [de agosto]?

Paulo Monteiro: Sim, haverá um evento no IHGS, dia 03/08, às 20 horas. Será realizada uma Sessão Solene, com palestra, lançamento de carimbo postal comemorativo e abertura de exposição de painéis, selos e maquetes referentes aos inventos de Bartolomeu de Gusmão.

AC: Conte-nos como foi o processo para conseguir o traslado de Gusmão para Santos. E também onde ele ficará, como será a vinda, em que dia etc.

Paulo: Em 1995, tive a oportunidade de visitar o Museu de Aeronáutica que funcionava na Oca, Parque do Ibirapuera. Lá estava a urna de Bartolomeu de Gusmão, além de um histórico das suas realizações. A partir de então, comecei a falar com algumas pessoas, mas de forma muito superficial.

A primeira vez que o assunto foi visto com mais seriedade, foi durante uma conversa com a Wânia Seixas, então Secretária de Governo do Prefeito Beto Mansur, isso foi em novembro de 2001. No ano seguinte, fui convidado a integrar a equipe da Fundação Arquivo e Memória de Santos (FAMS), onde a Wânia era a nova presidente. Entre o fim de 2003 e o início de 2004, estabeleci contatos com a Fundação Santos Dumont, que tinha a guarda da urna, e consegui o apoio do seu presidente, o Brigadeiro Checchia. Porém, nessa ocasião, as tratativas para a transferência da urna para a Catedral da Sé estavam bastante adiantadas, impossibilitando, naquele momento, o seu traslado para Santos.

Assim sendo, estrategicamente, tive de aguardar um pouco, pois seria impossível a retirada da urna logo após sua colocação na Cripta da Sé. Em 2005, saí da FAMS e fui trabalhar na Secretaria de Turismo, também com a Wânia. Em 2008 assumi a presidência do IHGS e, a partir de então, a volta de Bartolomeu para Santos passou a ser uma das principais bandeiras do Instituto. Não achava justo que os restos mortais de Bartolomeu de Gusmão estivessem em São Paulo, afinal, sua chegada ao Brasil em 1966 deveu-se ao esforço da Associação Hispano-Brasileira de Santos e os jornais da época eram muito claros ao afirmar que seu destino final seria nossa cidade [Catedral de Santos].

Com esse argumento, retomei os contatos, só que desta vez havia mais uma parte envolvida. A Cúria. Assim sendo, conversei com a Dra. Clotilde Paul, diretora do IHGS e também da Sociedade Visconde de São Leopoldo, com acesso direto a d. Jacyr Francisco Braido, Bispo de Santos. É importante salientar que, a partir do momento em que a urna passou à guarda da Igreja, sua remoção só se daria para outra igreja. Assim, o apoio do sr. Bispo seria fundamental. Para reforçar, enviei ofícios a d. Jacyr com a solicitação e também procurei o apoio dos meus amigos Marcela Rezek e Jaime Calixto, do Museu de Arte Sacra de Santos.

Outra pessoa que também fez contato com d. Jacyr foi o diretor de A Tribuna, sr. Roberto Antonio da Costa. Estando o sr.Bispo convencido da importância da vinda de Bartolomeu para Santos, este agendou uma conversa com o Arcebispo de São Paulo, d. Odilo Scherer, que não dificultou em nada e concordou com a solicitação. Porém, havia a necessidade de mais um apoio. Desta vez, da Aeronáutica. Conversei com o sr. Fabio Ribeiro, da Unimonte, que conseguiu uma reunião minha com o reitor sr. Ozires Silva, o qual me recebeu muitíssimo bem. Por seu histórico e prestígio, pedi que intercedesse junto à Aeronáutica para obter o apoio final necessário. O dr. Ozires concordou e ficou de levar meu pedido ao Comandante da Aeronáutica em Brasília, Tenente-Brigadeiro-do-Ar Juniti Saito. Porém, o dr. Ozires fez mais. Conversou com o sr. João Paulo Papa, Prefeito de Santos, que também fez o pedido ao sr. Juniti, diretamente, por telefone.

Enfim, foi uma peregrinação. Todos que participaram foram importantes. Agradeço o apoio de todas as instituições e pessoas citadas, pois, sem elas, nada disso teria acontecido. Antes que eu me esqueça, o grande idealizador de tudo foi o Comendador Alfaya Rodrigues que, em 1912, fez a primeira tentativa de repatriar Bartolomeu a Santos.

Outro que virá para Santos é o irmão de Bartolomeu, o diplomata Alexandre de Gusmão. Também fizemos os contatos necessários, juntamente com a Prefeitura. A urna estava no Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo e foi levada para a Secretaria de Estado da Cultura. Antes, porém, o IHGS e a PMS enviaram ofícios ao IHGSP solicitando a transferência para Santos. Tão logo foi informada, a Secretaria entrou em contato com a PMS que, por sua vez, encaminhou à Setur para as devidas providências. E começaram as tratativas.

AC: Você acha que esse traslado de Gusmão pode abrir precedentes, por exemplo, para Ribeiro Couto?

Paulo: Naturalmente, mas cada caso deve ser analisado de forma isolada. Por exemplo, a irmã de Bartolomeu - Joana de Gusmão - está em Florianópolis, onde exerceu grande atividade filantrópica e de caridade. Não seria justo tirá-la de lá, pois há uma ligação forte com a cidade. O Rui Ribeiro Couto está no mausoléu da Academia Brasileira de Letras (ABL). Já ouvi manifestações favoráveis e contrárias à sua volta. Ambas têm boas argumentações e merecem ser discutidas.

AC: Santos tem muito a ganhar em termos de turismo e cultura, com essa novidade. Há algum plano da Setur para os visitantes, depois do evento do dia 8?

Paulo: Apesar de a Comissão atuar há um ano, as coisas não estão no ritmo ideal. A crise mundial dificultou muito a obtenção de patrocínio e, nesse caso, a Prefeitura de Santos está fazendo o possível para viabilizar o evento. Mesmo com todas as dificuldades, o evento será um sucesso e, assim, poderá ser repetido anualmente. Certamente, será muito bom para a Cidade. Não nos esqueçamos que existe uma lei municipal que instituiu o dia 8 de agosto como o Dia de Bartolomeu de Gusmão. Essa lei foi sugerida por mim, em nome do Instituto Histórico e Geográfico de Santos, ao então presidente da Câmara Municipal de Santos, o vereador Paulo Gomes Barbosa.

AC: Que planos o IHGS tem para o futuro próximo, depois do evento dia 8, contando com a presença de Gusmão em Santos?

Paulo: O IHGS tem planos ousados. Agora que mudamos o Estatuto e nos transformamos em Associação, o que era exigido pelo Código Civil desde 2002, estamos aptos a conseguir parcerias e alavancar projetos. Já estamos com o site, em breve publicaremos um boletim mensal e uma revista trimestral. Conseguimos espaço em uma rádio importante da cidade e teremos inserções diárias sobre a história de Santos e curiosidades. Estamos estreitando os vínculos com as universidades locais, como o Jornalismo da Unisanta, a História da Unisantos e, em breve, anunciaremos uma grande novidade com a Unimonte. Conversamos com a National Geographic e seremos seus "representantes" em Santos, ou seja, receberemos seu material, realizaremos exibições e exposições, além de promover os lançamentos dos produtos da NG.

Também temos o projeto "Almanaque Santista", onde pretendemos incrementar nosso acervo, com a aquisição de mais obras, mapas e afins. Digitalizaremos os mais importantes e nos tornaremos o maior banco de dados sobre História, Geografia e Ciências correlatas da região. Promoveremos eventos e ações educativas. Não posso deixar de mencionar a construção do edifício anexo, com biblioteca, auditório e salão de festas e a restauração do casarão que será exclusivo para museu, pinacoteca e exposições temporárias. Para a viabilização do projeto, contamos com a participação da iniciativa privada, que perceberá o quanto é interessante investir em conhecimento.