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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE FILATELIA TEMÁTICA

 

 

ARTIGOS PUBLICADOS

ASPECTOS DA HISTORIA POSTAL DE MATO GROSSO

Autores: João Roberto Baylongue e Geraldo de Andrade Ribeiro Jr.

Publicado originalmente no Catálogo da Exposição Regional Campo Grande 2001

No início, o governo da então Província de Mato Grosso organizava
o serviço postal em função de suas necessidades e das poucas rotas
existentes, por caminhos incipientes e de difícil transposição¸ tendo
em vista a Inexistência de correio oficial local.

As cartas se dividiam em dois grupos distintos : as comunicações oficiais, as quais eram transportadas geralmente por militares e as cartas particulares transportadas junto às demais, mas, por diversas vezes rejeitadas em determinadas rotas, em razão de circunstanciais proibições de comunicações, geralmente devido à descoberta de novas minas de ouro.

O volume de correspondências, inicialmente, era muito pequeno, em face da escassa atividade comercial, bem como do elevado índice de analfabetismo. Em casos de urgência ou, ainda, de comunicação que exigia garantias extras de sigilo, eram utilizados mensageiros particulares, os denominados "próprios " , "positivos " ou " particulares ", de custo elevado e acessível a poucos. Havia, de maneira esporádica, a utilização dos tropeiros, que demandavam, função de seu mister, às diversas partes da Província.

No período imperial já existiam linhas postais convencionais cortando o território de Mato Grosso, ligando as poucas vilas existentes ao mundo exterior. Paralelamente, havia o Correio Militar para as guarnições de fronteira, em particular os Fortes Príncipe da Beira e Coimbra. O que se sabe, ao certo, é que em 1856 havia as seguintes agências : Cuiabá, Poconé, Santa Maria, Piquery, Matto Grosso, Rio Grande, Albuquerque, Sant' Anna da Paranahyba, Diamantino e Miranda.

O início da História Postal de Mato Grosso está intimamente ligada à História Postal de São Paulo, devido ao papel desempenhado pelo rio Tietê, que foi o primeiro caminho de penetração para o interior do país, já no primeiro século de colonização.

Navegação

Por volta de 1720, caminho consolidado para as minas de ouro do sertão de Goiás e Mato Grosso , o rio Tietê via crescer a sua navegação, não só com o crescente número de aventureiros em busca de ouro e pedras preciosas, como por expedições governamentais, organizadas pelo Capitão General da Capitania de São Paulo (1 765 - 1 775) , D. Luiz Antonio de Sousa Botelho e Mourão, o Morgado de Mateus , o qual se achava empenhado em alargar e consolidar as fronteiras, povoando as terras além da atual cidade paulista de Itu.

O Tietê foi o "instrumento máximo de penetração do Brasil sul ocidental ", segundo Afonso de E.Taunay e, de acordo com Basílio de Magalhães : " de suas margens partiu o movimento conquistador do todo o Sul, do Centro e do Oeste . " Esta era a grande estrada aberta para manter o terreno conquistado.

Até o início do século 19 esta via de penetração esteve ativa, quando começou a declinar, face às facilidades apresentadas pelos caminhos de terra, mais curtos e possibilitando o transporte de cargas em lombo de mulas bem como a mudança de rota, já com o advento da navegação a vapor, adotando-se a subida dos rios Paraná e Paraguai, foi encerrado o período áureo do rio Tietê como " estrada do sertão. " O rio Tietê foi utilizado como linha postal, por cerca de 200 anos, desde a época anterior ao correio organizado até o final do século 19 e, até mesmo o início do século passado. Existem escassas, porém preciosas referências desta, e, em particular, a análise das cartas da Expedição Langsdorff , iniciada em 1826, permitem visualizar o tráfego postal do período.

Em "Documentos Interessantes do Arquivo do Estado de São Paulo", acha-se , datado de 06 / 12 / 1734, um documento sobre o " mao sucesso da guerra contra o Gentio Payaguá e o procedimento irregular do ouvidor de Cuyabá ", no qual há expressa citação : " ...a presente ocasião contraria a minha esperança qual se pode ver pellas cartas que nas canoas de Cuyabá me chegarão na presente monção.... Em 03 / 05 / 1776 - Carta de Martim Lopes Lobo de Saldanha, para o Capitão André Dias de Almeyda, em Araritaguaba : "O Patrono das Canoas vindas de Cuyabá, José Francisco não só me entregou a carta de... ".

Em seu " Diário de Navegação ", Teotônio José Juzarte afirma que encontrou, a 10 / 05 / 1769, cartas que os cuiabanos costumavam depositar no ôco de uma árvore, junto a uma pousada, para serem recolhidas e transportadas pelos viajantes. Trata-se do "correio do toco", prova eloquente da sistemática postal da época. Recentes pesquisas dos autores permitiram localizar o citado pouso no atual estado de Mato Grosso do Sul.

A partir de 1800, o Governador da Província de São Paulo estabeleceu diversas melhorias e controles no serviço e nas taxas cobradas pelos correios, de modo a se evitar desvios de valores, manter o sigilo da correspondência, etc., conseguindo implantar um correio regular no estado e da capital para as principais vilas do interior, estendendo as linhas para as províncias limítrofes, existindo farta documentação a respeito.

Em 24 / 09 /1800 expediu Alvará : " Tendo mandado crear um Correio na Vila de Porto Feliz, donde partem as canoas, tanto para a Vila de Cuiabá, como para Vila Bela de Mato Grosso, e pelo expediente do mesmo serão remetidas a cada uma delas as suas respectivas cartas que ou ali se lançarem, ou forem importadas pelos correios interiores desta Capitania. Quanto ao porte das mesmas cartas, conformo-me inteiramente com o que se acha estipulado e consta do Artigo 4 º do 1 º Bando de 25/01/1799, uma vez que elas sejam lançadas no Correio de Porto Feliz, e levadas em diretura para qualquer das ditas vilas mas como além destes Correios dirigidos via dos Rios, tem de ser conduzidos por outro de terra desta cidade para a dita Vila de Porto Feliz e vice versa,....".

A partir desta data e, principalmente após a independência, as linhas se multiplicam , interligando as principais vilas. A simples observação das datas das partidas e chegadas de navios, as datas das cartas, bem como o percurso adotado permite visualizar, claramente, as dificuldades existentes e as alternativas adotadas nas rotas utilizadas e a intensidade do tráfego postal permite constatar o tipo e a dimensão das atividades comerciais. Desta forma fica evidenciada a importância da Filatelia como uma ciência auxiliar da História.

A esta altura também se chegava a Mato Grosso por caminhos de terra, pelo vale do Paranapenema e pelo Triângulo Mineiro, caminhos estes mais curtos para certos destinos, o que foi inviabilizando a utilização da rota fluvial do rio Tietê.

O Decreto n º 23 do Ministério da Guerra, de 06/04/1820, manda estabelecer correios entre as diversas províncias deste Reino " ...Goiaz, estabeleça desta Província para a cidade de Cuyabá um correio regular, entendendo-se com V.Excia. no qur tocar ao território do districto de Matto Grosso...." .

Em 28/04/1835, ocorre a organização da Administração do Correio da Província de Mato Grosso : " A Regência em nome do Imperador o senhor D.Pedro Segundo, em conformidade do Decreto de 05/03/1829, há por bem organizar a Administração do Correio da cidade de Cuyabá, com os lugares mencionados na relação que com este baixa, assignada por Joaquim Vieira da Silva e Souza, Ministro e Secretário de Estado dos Negócios do Império que assim o tenha entendido e faça executar com os despachos necessários ".

A titulo de curiosidade, os nossos primeiros selos, os Olhos de Boi emitidos em 01 / 08 /1843 somente foram enviados a então Província de Mato Grosso em 30 / 04 / 1844 (34.000 exemplares), praticamente um ano após terem sido emitidos.

Na segunda metade do século 19, com o advento da navegação a vapor e com a abertura da navegação do Rio Paraguai, encerrou-se o ciclo do Rio Tietê como estrada do sertão. Pela análise dos contratos das companhias de navegação pode-se ver a importância postal desta nova rota, como por exemplo o Decreto 5200 de 11/01/1873 que trata do contrato dos Correios e a Conceição e Cia. para a ligação das linhas costeira e fluviais de Mato Grosso e o Decreto 5612 de 25/01/1874, o qual trata da Cia.de Navegação a Vapor Montevideo / Mato Grosso. A partir de então, a maioria das correspondências seguia para a capital da república e, principalmente, para o exterior, via Montevideo.

Por volta de 1914/15, o governador do estado efetuou excursão pelas suas diversas cidades, narradas no Album Gráphico de Matto Grosso, da qual são dignas de nota as suas observações: "Ponta Porã não tem telégrapho nem linha de Correios, não obstante ser sede do do 17 º Regimento Federal de Cavallaria.

Telégrafos

Porto Murtinho - Estação Telegraphica

Cuiabá - Repartição Geral dos Correios

Corumbá - Estação Telegraphica

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Linhas Telegráficas do Estado de Mato Grosso

A correspondência entre os seus habitantes e os de Bella Vista e de outras localidades é feita pelo Correio da República vizinha ! ".A mesma falta encontrei entre Campo Grande e Tres Lagoas. Em geral, esse serviço, onde o mesmo existe no Sul do Estado, não é feito com a regularidade desejável e d'isso queixa-se a população do Sul. Levei estes factos ao conhecimento do Sr.Ministro da Viação, solicitando as providências que o caso exige: tendo S.Ex. respondido que ia providenciar dentro das verbas orçamentárias.Aqui também entendi-me com o Sr.Administrador dos Correios, Major Antonio Thomaz de Aquino Corrêa, no intuito de sanar esta grave falta que não deve continuar em serviço de tão relevante importância".

Correios

Cuiabá - Correio - 1913

Administração Geral do Correio

Corumbá - Correio

Correio - interior

Agência do Correio - Cuiabá

Corumbá - Agência do Correio - 1939

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Mapa - 1930

Em 1914 inaugurou-se a Estrada de Ferro Noroeste do Brasil, ligando São Paulo a Corumbá o que permitiu um novo acesso ao estado, antes baseado na navegação do Rio da Prata e modificou sobremaneira as rotas postais. Desta forma, a linha postal de Campo Grande para o restante do mundo, via Aquidauana e Rio Paraguai, foi praticamente extinta, incrementando-se a ligação direta com São Paulo e Rio de Janeiro, pela nova via férrea, muito mais rápida.

Ferrovia

E.F. Noroeste - Envelope

O mapa postal da Administração dos Correios de Matto Grosso e Corumbá (1930) é uma preciosa reconstituição da rede postal da época, apresentando as linhas fluviais e terrestres, bem como a frequência das respectivas linhas. A década de trinta trouxe as primeiras linhas do correio aéreo acelerando ainda mais as comunicações de Mato Grosso.

As dez primeiras agências foram evoluindo até se atingir o grande número de agências atualmente existente, havendo diversas unidades abertas e posteriormente fechadas, outras renomeadas, em função de circunstâncias políticas e econômicas, totalizando cerca de 300 agências postais diferentes. A análise da abertura e / ou localização das mesmas poderá servir como um instrumento de análise da própria história política e econômica de Mato Grosso.

Aviação

Envelope

Syndicato Condor

 

Via Condor

Eis, em rápidas pinceladas, alguns aspectos da História Postal de Mato Grosso, especialmente para a CAMPO GRANDE 2001.

BIBLIOGRAFIA

1 - CORREIOS, Relatório Postais (1829 - 1930)
2 - NOBREGA, Mello, História do Rio Tietê, EDUSP, 1981
3 - ARQUIVO DO ESTADO, SP., Documentos Interessantes - Diversos Volumes.
4 - RIBEIRO Jr., Geraldo de Andrade e BAYLONGUE, João Roberto, Primórdios da História Postal de São Paulo - Exposição de História Postal - Arquivo do Estado - 1998.
5 - RIBEIRO Jr., Geraldo de Andrade e BAYLONGUE, João Roberto, História Postal do Rio Tietê, Catálogo da LUBRAPEX 95, São Paulo, 1995.
6 - Álbum Gráphico de Matto Grosso, 1914
7 - KURCHAM, Mario D., Servicios Fluviales de Correios em la Cuena del Plata - 2 ª parte -
Cuadernos FAEF n º 3.

 

 

 

 

 

 

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