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ARTIGOS PUBLICADOS

CORREIO CLANDESTINO JAPONÊS NO BRASIL

Autor: Ary Serpa

Publicado originalmente na Revista Temática, Filatelia e Cultura nº 132 - 1994

A imigração no Brasil foi regulamentada e oficializada no ano de 1860,
ainda no Reinado de D.Pedro II. Seu início, contudo, aconteceu
10 anos após em 1870, quando aqui chegaram os primeiros
imigrantes italianos.

Entre outras nacionalidades que para aqui vieram, os japoneses foram praticamente os últimos. A primeira leva de imigrantes daquele país, trazidos pelo vapor Kasato Marú que aportou em Santos, chegou em 1908.
Assim como os europeus, os asiáticos vieram com a finalidade precípua de trabalhar no campo, o que foi muito favorável ao desenvolvimento do Brasil.

Os japoneses foram distribuídos em alguns Estados do Brasil. No vale médio do Rio Amazonas, fixaram-se na cultura da fibra têxtil juta; no Pará, ficaram em Tomé-Açu, onde introduziram a cultura de pimenta-do-reino. A maioria dos que ficaram no Estado de São Paulo, foram levados para a cidade de Registro. Uma sociedade cooperativa cedeu a eles áreas de terra, ficando com a obrigação do plantio e difícil cultura de chá preto.

Após o cumprimento dos prazos de vigência de seus contratos imigratórios, os japoneses passaram a diversificar suas atividades. Com o seu desenvolvimento em vários setores, é inegável que representam uma força viva do comércio, indústria e agricultura do Brasil. Tem aqui o mesmo destaque que os caracteriza em outros países, inclusive do Primeiro Mundo.

Grande parte dos que se acham no Estado de São Paulo, após o trabalho a que se obrigaram, ficaram na cidade de Santos - primeiro porto da América do Sul - passando a cultivar legumes, plantar bananais e a dedicar-se pesca marítima.

Outros dirigiram-se para vários municípios paulistas, localizados na zona das linhas férreas conhecidas como "Alta Sorocabana" e "Noroeste do Brasil".

Muito tempo depois, porém antes da declaração de guerra de Hitler à Polônia e à formação das "nações aliadas", o Brasil já estava ás voltas com o ataque e o naufrágio de seus navios mercantes, o terrorismo e a espionagem interna. Foram recontrados focos alemães e japoneses em inúmeras cidades do país, mais objetivamente nos portos de mar, entre eles o de Santos.

Em razão da chamada "Quinta Coluna" (Grupo de espiões que reunia alemães, japoneses, nipo-brasileiros, além de simpatizantes), o governo brasileiro viu-se na contingência de retirá-los de suas zonas litorâneas, confinando-os no interior do país. As autoridades brasileiras conheciam, de sobejo, as tendências do governo japonês e o arquétipo daquela raça.

Os nipônicos que estavam em Santos e adjacência foram encaminhados para as cidades interioranas, principalmente para algumas em que já proliferavam japoneses abastados, os quais gozavam de bom relacionamento com brasileiros nelas residentes. Este bom entendimento entre as nacionalidades nada mais era do que o fruto da incontida e indiscutível aparente subserviência dos japônicos. Sua constante frieza; essa não aparecia, é claro!

Iniciada a Segunda Guerra Mundial, o Japão no ano de 1940, assinou o "Tratado de Aliança Militar" com a Alemanha e a Itália. Em 1941, após o covarde ataque a Pearl Harbour, a América do Norte declarou guerra aquele país.

O Japão, já agora aliado a Hitler e Mussolini, declara seu estado de beligerância contra os aliados, formando assim a aliança conhecida como o "E I X O"- Alemanha/Itália/Japão.
Os descendentes do Sol nascente, em princípio, tiveram importante desempenho na sua suposta e almejada vitória sobre os aliados. Destroçaram os impérios coloniais do Ocidente, ocuparam a Malásia e Singapura, as Filipinas e a Indonésia, como a própria Birmânia. Chegaram às portas da Índia e aos postos avançados da Austrália.

A Colônia japonesa no Brasil vibrava de satisfação com os feitos, para eles grandiosos, de seus compatriotas contra os aliados. Esqueciam que, entre eles, estava o povo que lhes dera abrigo, trabalho, terras, alimentação e liberdade para professar qualquer religião. Lá fora os brasileiros morriam no conflito, internamente passavam privações.

O grande número de nipônicos da região de Marília, em 1939, criou um correio exclusivo dos japoneses. Este correio foi utilizado também por nipo-brasileiros. Nessa época, eles eram considerados muito submissos. Na verdade nunca o foram. Sempre inteligentes, muito sagazes!

Nesse correio foram usados carimbos como os que ilustram este trabalho. Para espanto geral, até com caracteres japoneses! Na cidade de Bastos, foram encontrados alguns carimbos iguais na agência do Departamento de Correios e Telégrafos - DCT, ficando provada a sua utilização diariamente.

Existiram agências clandestinas nas seguintes cidades do Estado de São Paulo: Araçatuba, Bastos, Birigui, Cafelândia, Duartina, Fernão Dias, Guaraná, Garça, Guaiçara, Guararapes, Lins, Marília, Martinópolis, Mesquita, Nipolândia, Pereira Barreto, Pompéia, Promissão, Quati, Rancharia, Valparaíso e Vera Cruz.
Esperamos que esta nova divulgação sirva para os filatelistas amantes da Marcofilia, da Temática e da História Postal. Desejamos que os do Brasil e mesmo os estrangeiros, aproveitem esta nossa informação, pois a julgamos oportuna.

 

 

 

 

 

 

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